quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Consciência Negra - 20 de novembro

Negros e Negras na luta pela Consciência Negra e pelo socialismo
Luciano da Silva Barboza - 20 de novembro de 2008

SOU NEGRO (Solano Trindade)
A Dione Silva

Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minha alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Luanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minha alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...

O ano de 2008 é marcado por um conjunto de simbologias da resistência negra no Brasil. São 120 anos da abolição da escravatura, um fato histórico, mas que não garantiu a integração do negro na sociedade, pois após a abolição não recebeu terras e nenhum tipo de indenização pelos séculos de trabalho escravo. Por isso esse processo é entendido pelo conjunto do movimento negro como uma abolição inacabada.

Neste ano também se completa 100 anos da Umbanda, importante manifestação religiosa afro-brasileira que era proibida e foi perseguida durante todo o período de escravidão no Brasil, quando o catolicismo era religião oficial do país imposta aos negros e indígenas. Seriam também 100 anos do grande sambista Cartola, que fez musicas que ajudaram a formar a identidade negra nas favelas do RJ, local onde a maioria dos negros começaram a morar por falta de opção, quando saíram das senzalas após a abolição, porque não houve uma política de integração do negro a sociedade. Além disso, é o ano do centenário de nascimento de Solano Trindade, o maior poeta negro brasileiro, militante comunista, que deixou uma longa contribuição tanto cultural como política.

Outro fato político marcante neste ano é a eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos que até 50 anos atrás vivia em um regime de profunda segregação racial, onde lideres negros com o pastor Martin Luther King e o muçulmano Malcom X foram assassinados por defender igualdade racial nos EUA. Ambos defendiam coisas básicas como o direito ao voto, o direito de utilizar o mesmo transporte que um branco ou mesmo de poder morar no mesmo espaço físico nas cidades do sul (extremamentes racistas). Grupos como o Partido Panteras Negras foram perseguidos nos guetos americanos pela CIA por defender o socialismo como solução dos problemas dos negros, essa repressão se tornou um marco histórico nas Olimpíadas de 1968 na cidade do México quando atletas do Partido Panteras Negras levantaram o punho com uma luva negra, em sinal de protesto contra o racismo nos EUA, e depois foram acusados de traição à pátria (EUA).

Apesar do grande simbolismo da vitória do democrata negro Barak Obama nas eleições dos EUA, percebemos que para isso ele fez enormes concessões às elites brancas e financistas. Sem falsas expectativas, já sabemos que sem romper com as elites financistas; sem destruir a máquina de guerra a serviço do imperialismo; sem inverter radicalmente as prioridades do governo norte-americano no sentido de beneficiar o povo, o que só ocorreria através de um regime socialista; sem acabar com o bloqueio econômico a Cuba e sem desmontar os campos de concentração e de tortura (um total desrespeito aos direitos humanos) que ocorre na base americana de Guantamano (Cuba); sem garantir as devidas ajudas humanitárias às vítimas do furacão Katrina (onde a maioria era negra e muito pobre); sem isso não haverá grandes mudanças. Obama manterá a política neoliberal que só serve para aumentar os lucros das grandes empresas e gerar o desemprego e a miséria dos trabalhadores. Por tudo isso, Obama não atenderá às necessidades do povo negro que luta por uma sociedade justa e igualitária.

O Governo Lula, neste ano de 2008, renovou a permanência no Haiti da Missão Minustah, que tem o papel imperialista de reprimir o povo Haitiano que mora nas favelas e protesta contra a fome, contra seu governo haitiano que agora é protegido pelo Brasil a mando dos EUA que no momento concentram suas tropas no Iraque. Assim o Brasil não respeita a soberania daquele país que foi a primeira república negra do mundo, que através da luta dos negros contra a escravidão proclamou sua independência derrotando a escravidão e os franceses colonialistas.

Nos últimos meses assistimos estourar nos Estados Unidos uma grande crise financeira que começa a ter impacto no Brasil. Por aqui houve uma fusão de duas corporações bancárias (Itaú e Unibanco) e a uma grande movimentação do governo federal de socorro aos banqueiros.

Enquanto o governo está preocupado com os banqueiros o povo negro continua sofrendo com as profundas desigualdades sociais. Vivemos na maior nação negra fora da África, que assistiu mais de 5 milhões de africanos serem escravizados (cerca de 40% do total de negros arrancados da África pelo tráfico escravista).Conforme nos mostra o Índice de Desenvolvimento Humano, as condições de vida dos negros no Brasil hoje são péssimas: ganhamos os piores salários, somos os primeiros a sermos demitidos e os livros escolares ainda não contam nossa história.

Estudo do Diesse apresentando em novembro de 2007 aponta que, na região metropolitana de São Paulo, 60,3% dos negros não conseguem terminar o ensino médio e apenas 3,9% conseguem acessar e terminar uma faculdade. O mesmo estudo mostra que a população negra trabalha mais, porém ganha menos, a cada R$ 4 reais gerado no país R$ 3 ficam nas mãos dos brancos.

A juventude negra é o principal alvo da violência urbana, principalmente dos excessos cometidos pela polícia. As jovens negras são as que mais morrem por conseqüência de abortos mal feitos por falta de dinheiro. Além disso, as mulheres negras são as mais oprimidas (opressão de raça, de classe e de gênero-machismo).

Neste sentido, nós, Negras e Negros defendemos a não ajuda aos banqueiros, especuladores, exploradores e imperialistas, mas que o governo tenha ações contundentes na reparação histórica do povo negro aprovando imediatamente o Estatuto da igualdade racial, a lei de cotas, o reconhecimento de terras para remanescentes de quilombo, reforma agrária e mais recursos para a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.

O dia 20 de Novembro é um dia especial para todas as negras e negros brasileiros, pois do dia da morte de Zumbi dos Palmares surge a comemoração da consciência negra, a não aceitação do dia 13 maio (dia da abolição) como seu dia, pois esse dia foi somente a assinatura da lei áurea pela branca opressora princesa Isabel, a libertação dos negros não deve ser comemorada neste evento feito pela elite, a luta do povo negro se fez durante os 350 anos de escravidão através dos quilombos, da religião afro-brasileira, da capoeira, da música, e através das guerras... e por isso sua data de comemoração deve ser um dia que represente essa luta.

Zumbi é o símbolo maior dessa luta porque nunca aceitou fazer acordos com os brancos, sempre defendeu a libertação de todos os escravos, diferente de Ganga Zumba outro importante líder negro dos quilombos que tentou fazer acordos e acabou morrendo. Além disso, o feriado de Zumbi dos Palmares é o único feriado que homenageia uma liderança popular do Brasil, pois a Proclamação da Republica, a Independência e a Inconfidência Mineira são exemplos de feriados que foram todos feitos por movimentos das elites, sem participação popular para não alterar as estruturas fundiárias do Brasil, o que manteve os latifúndios até hoje.

O capitalismo se aproveita do racismo para pagar salários mais baixos para os negros, a lógica do lucro e da exploração, além do individualismo valorizado no sistema capitalista fortalece o racismo. A luta do povo negro só se encerrara quando acabarmos com a exploração do homem pelo homem, e isso só é possível em um regime socialista, onde todas as etnias (brancos, indígenas, negros e asiáticos) poderão construir a sociedade da igualdade.

O racismo não se encerrara somente pela decretação do socialismo, percebemos isso na experiência frustrada da URSS, devemos aprender com os erros do passado.A luta contra o racismo permanecera ate que toda a intolerância ao diferente se encerre na humanidade e por isso devemos combater o racismo desde já, construir o novo agora, para alterarmos o processo histórico e construirmos uma sociedade revolucionaria, socialista e democrática, anti-racista.


Bandeiras de Luta das Negras e Negros:
Pela aprovação do Projeto de Lei 1336/2007 que Institui como feriado civil no Estado o dia 20 de novembro (Dia Nacional da Consciência Negra)
Pela Retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti
Contra a criminalização da pobreza e o extermínio da juventude negra
Contra a intolerância as religiões de matriz africana
Pela aprovação do Estatuto de Igualdade Racial
Pela aprovação da Lei de Cotas
Pela Implementação da Lei 11.645/2008 que obriga o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas

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